quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Âncoras ou raízes?

"Na vida, nós devemos ter raízes, e não âncoras. Raiz alimenta, âncora imobiliza. Quem tem âncoras vive apenas a nostalgia e não a saudade. Nostalgia é uma lembrança que dói, saudade é uma lembrança que alegra. Uma pessoa tem saudade quando tem raízes, pois o passado a alimenta (mais de 40 anos atrás, eu saí de Londrina, minha cidade natal, mas minha saudosa Londrina não saiu de mim).
Pessoas que têm nostalgia estão quase sempre às voltas como um processo de lamentação.

Como curiosidade, lembro que a palavra nostalgia foi criada por um médico alemão do século 19. Naquela época, quem tinha um ferimento feio tinha de amputar o membro ferido. E então, como hoje, muita gente que perdeu uma parte do corpo relata continuar sentindo desconforto, coceira ou dor no membro que não existe mais. E então, o médico alemão pegou duas palavras gregas antigas e as uniu: nostos, que significa volta, e algo, que quer dizer dor. Assim, nostalgia ficou sendo a dor da volta, a dor daquilo que já se foi e continua doendo.

Todos nós temos raízes e também âncoras. O problema é quando as âncoras superam as raízes. O nostálgico amarga e sofre, o saudoso se alegra, pois ele deixa fruir aquilo que viveu. O nostálgico se aproxima daquilo que os antigos chamavam de melancolia e que hoje é chamado de depressão, esse perigo.
Vez ou outra é preciso fazer um “balanço” de mim mesmo, de modo a ver se estou sendo puxado para as raízes ou para as âncoras, para a saudade ou a nostalgia, para a alegria ou para a depressão.

Em qualquer ano que uma pessoa tenha atravessado é impossível viver sem cicatrizes. Por isso, uma das coisas que mais me chateiam é quando encontro alguém depois de um ano e essa pessoa me diz: “Cortella, você não mudou nada!”. Como não mudei?! Só o fato de eu ter partilhado, compartilhado, vivenciado, convivido com pessoas, experimentado coisas, tudo isso faz com que eu mude.
Muita coisa que eu pensava no começo do ano não pensa mais e vice-versa, pois sou capaz de mudanças, graças aos céus. Sou um ser flexível, e ser flexível é muito deferente de ser volúvel. Flexível é aquele que muda quando considera adequado mudar. Volúvel é aquele que muda por qualquer coisa. A nostalgia é a tristeza da mudança contínua. A saudade é a experiência da mudança que conduz ao crescimento. A nostalgia é uma armadilha, registrada pelo estupendo poeta português Fernando Pessoa em um dos versos mais brilhantes da língua portuguesa, que está num poema escrito em 1930 e assinado por Álvaro de Campos, um dos seus heterônimos: "Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro". à criança a quem sucedi por erro!! Ora, isso é nostalgia pura. Não é uma raiz. É uma âncora, nostálgica e dolorosa, aquilo que Carlos Drummond de Andrade chamou de " a pedra no meio do caminho"
Percalços são inevitáveis, toda vida é composta por erros e acertos, por dores e delícias. A maioria das pessoas acreditam piamente que aprendemos com os erros. Cautela com isso. Na minha opinião, aprendemos com os erros dos erros; se aprendêssemos com os erros, o melhor método pedagógico seria errar bastante, Ora, brincando, podemos lembrar que todo cogumelo é comestível - só que alguns uma única vez... eis um equívoco que não dá para corrigir depois.
Não é o erro; é a correção do erro que ensina."

Texto do professor Mário Sérgio Cortella.

Boa noite!!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

15 de março

Duas semanas antes ela havia me perguntado:

01/12/11
- Dia 16 tá bom pra você?
- Claro, tá ótimo!
- Ok, então. Dia 16, no mesmo horário.

16/12/11

Dia tenso!!! Muito compromissos num dia só (leia-se: festas!!). Chego com uma antecedência que não faz parte da minha índole, sem contudo lograr êxito.

Corro até a porta e ela me lança um olhar misericordioso.
- Olha, poderei te ver no dia 22. Pode pra você?!?!
- Mas você não estaria...
- Pois é, surgiu um imprevisto e terei esta data.
- Uai, então ótimo!!!
- Te encontro no dia 22.
- Ok!! Tchau!!

22/12/11

Acordar cedo, falta de ar, serviço, falta de ar, consulta com pneumologista, tensão, falta de ar, serviço, almoço, amiga, tensão, falta de ar...

13:00
- Estou trabalhando, posso voltar daqui a pouco?
- Claro!! Têm 7!!
- Ótimo

15:00
- Alô, ela ainda está aí?
- Tá sim. Faltam 2.
- Beleza, daqui a pouco eu volto.

17:00 (em frente à farmácia na saída do prédio)
- Oi Rafael!! (risos) Era você que eu tava esperando então?!
- Pois é!! (sem graça) Já tá saindo, né?!?
- Mas eu volto!!
- Não!! Não precisa incomodar. Eu aguentarei esperar!!
- Tem certeza?!?! Não quer me falar algo??! Alguma coisa nova?!?!
- Não. Apenas banalidades que podem aguardar!!
- Então tá, você é quem sabe!! Só volto em 15 de março (assinando e carimbando). Marque no agendamento, ok!?
- Ok!! Boas festas pra você e toda sua família!!
- Pra você também!!
- Tchau.
- Tchau.


E assim, despedi da minha psicóloga!! Hoje, faltando exatos 2 (meses) pra ela voltar, eu já estou surtando!!

Enfim!!
Boa semana

domingo, 15 de janeiro de 2012

Acordar cedo, aula, almoço no supermercado, aula, ônibus, casa, pc, sono, amiga, aluguel, bar, cerveja, peixe, casa, pc, amigo, sítio, Nina Simone, Fal Azevedo, dúvida, ansiedade, Ocadil, cama...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"SEM PAPAS NA LÍNGUA"


"O Papa diz que casamento gay é uma ameaça à humanidade. Ave! Mais essa agora. Ora. Isto já faz tempo. Diz-me um amigo. Por isso que padre não pode casar. Meu amigo ri. Até gargalhar. Outro grita. Afirma. Com razão. Eu nunca precisei do Papa para nada. Ainda pequeno. Meu coração. Com aquele mistério de sentimento. No peito. Não foi para ele que eu rezei. Com medo. Assim. De que não fosse certo. Amar uma pessoa do mesmo sexo. E completa. A ele não agradeci a dádiva do primeiro beijo. Nós ali. De cabelos molhados. Na praia de Pau Amarelo. Descobertos. Ao Papa nunca pedi conselho. Aprovação. Nenhuma oração eu fiz. Quando fui feliz. Ou quando fui infeliz. Em meio ao deserto. Abandonado. Naquele instante em que a paixão acaba. Entende? O mundo desaba em cima da gente. Eu entendo. Porque lembro de situação igual. Carnaval quando vira cinza. Nessa hora. Não foi para o Papa que eu pedi clemência. O Papa sempre de costas. Meu outro amigo barbariza. Sua Santidade deixa à míngua os próprios padres. Que ardem de paixão. Enclausurados. Coitados. Eu nunca confiei na igreja católica. Caduca e preconceituosa. De fato. Eu falo. Meu amigo fala. Para esse tipo de pregação nunca dei bola. Continuei a minha vida. Em paz. Até que um dia. Eis que me apareceu esse rapaz. Depois de muito penar. Minha alma encontrou companhia. Dessas raras. Mais que milagrosas. Mágicas. De a gente enfrentar a família. A sociedade. Eu me orgulho disto. Nunca precisei do Papa para nada. Meu amigo repete. Não foi ele quem me abençoou. Celebramos nós mesmos a nossa felicidade. Aleluia! O Papa nunca foi dono deste nosso amor."

Lindo texto do Marcelino Freire, escritor e dono do blog Ossos do Ofídio!!

À merda o papa!!!

Boa semana pra todos!!!!